Dentro da curta e premiada filmografia do cineasta britânico Sam Mendes há uma clara base para sua dramaturgia: a amarração de seus personagens a algo maior que eles, a subjugação do indivíduo à regras estabelecidas. Chega até a ser esquemática a forma como a narrativa é composta, desde o desconhecimento da realidade até a lamentação das conseqüências, passando por todo o processo de enfrentamento e posterior amadurecimento. É o clássico conflito entre o microcosmo interior e o mundo à volta, a abnegação de um sentido qualquer da vida à situações fora de controle. Desde que desmantelou oamerican way of life em Beleza Americana, Mendes parece inclinado a este tipo de proposta – a violência como estopim em Estrada para Perdição, o sentido da guerra em Soldado Anônimo – e agora retorna neste seu quarto trabalho na direção novamente abordando seus temas-diretrizes. Baseado em romance de Richard Yates de 1961, Foi Apenas um Sonho é sobre um jovem casal sofrendo as agruras da chamada “instituição casamento” na década de 1950, época em que se propagou ao mundo o olhar cor-de-rosa sobre o modo de vida do norte-americano. Mendes conta sua história quase como um cronista, apresentando desde o primeiro encontro do casal até o cruel desfecho, ainda em que se perceba características da literatura de Ibsen, essa tentativa de mostrar a vida contemporânea de forma realista através dos conflitos psicológicos dos personagens. O grande problema neste filme de Mendes é que ele nunca consegue extrapolar aquilo que quer contar, deixando tudo sempre na superfície, na mesmice. Ainda que o espectador perceba que um turbilhão se passa dentro daquele casal cujo intuito é fugir para um outro país na tentativa fantasiosa de salvar o matrimônio e a própria felicidade, nada disso é visto na tela. Não existe um comprometimento em destrinchar passo a passo como, onde e porquê tais fatos vão se sucedendo. O que se vê é um amontoado de cenas-chave que simplesmente dão andamento à narrativa. Há a cena do encontro, do adultério, do rompimento e assim por diante, sem nunca um embasamento por trás. Esta falta de argumentação narrativa é preocupante no cinema de Mendes a partir do momento em que se relembra o seu passado teatral de vanguarda e bem-sucedido. Já tinha sido percebido em Soldado Anônimo uma tentativa de camuflar a visão apolítica dos fatos, quando todos esperavam um dedo na ferida da Guerra do Iraque. E, agora, ele mal consegue correlacionar a história à época contemporânea. É o tal do cinema sem estofo, se tirar a embalagem – bela , por sinal, com fotografia naturalista do Roger Deakins e trilha discretíssima de Thomas Newman – não sobra muita coisa. Temas que poderiam ser abordados com maior relevância como o aborto, a desigualdade entre gêneros e uma futura abertura para o que viria acontecer na década seguinte são deixados de lado. Porém, há de se louvar o desempenho do casal principal, Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, anos após estourarem em Titanic. Ambos apresentam as fragilidades e inseguranças de seus personagens de uma forma madura, sem nunca apelar ao histrionismo ou a explosões baratas. Eles conseguem levar os personagens da euforia à desilusão com apenas o olhar. Pena que o filme não siga a excelência de seus atores principais. E, para finalizar, o trailler do filme, pra quem se interessar. Abraços a todos. |
sábado, 28 de fevereiro de 2009
Foi Apenas Um Sonho
domingo, 22 de fevereiro de 2009
Para a amiga distante
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Para o Pequeno Príncipe
: Já falei que sou fã incondicional da escritora Fernanda Young?
" Nossa, há quanto tempo... Como vão as coisas no seu pequeno planeta? Aqui, no meu, andam imensamente estranhas – muito baobá para pouca flor, se é que você entende meus simbolismos. Quem sempre fala de você é aquela ex-miss que vivia chorando por sua causa, lembra? Ela me contou da sua amizade com a Raposa.
Príncipe, como você é meu amigo de infância, não posso deixar de alertá-lo. Cuidado com a Raposa. Ela parece uma coisa, mas é outra. Faz-se de fofa e é uma cobra, uma chantagista.
Quando a conheci, ela disse que não podia conversar comigo, pois não sabia quem eu era. “A gente s conhece bem as coisas que cativou”, ela falou, toda insinuante. Respondi que, se nós duas nos cativássemos, ela ficaria triste quando eu fosse embora. Foi quando saquei que ela queria ter um cacho comigo, pois a Raposa pegou no meu cabelo – eu estava loira na época – e disse que tudo bem, porque ela olharia os campos de trigo e se lembraria de mim. Marcamos um encontro para o dia seguinte, às 4. E ela me pediu para chegar às 4 em ponto, dessa forma ela ficaria feliz desde as 3 somente por esperar o momento do nosso encontro. Achei estranho, mas pensei que fosse charme. Não era. Cheguei 15 minutos atrasada e a Raposa surtou. Falou que nós somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos. E perguntou para mim, olhando diretamente nos meus olhos, se eu tinha consciência de que “perder tempo” com o outro é o que faz essa história importante.
Percebeu o tom de chantagem? Ela joga na cara tudo o que faz em nome do outro. Ela deseja afeto, mas o quer como uma responsabilidade de mão única. Porém, também somos responsáveis quando nos deixamos cativar – relacionamentos são vias de mão dupla.
A Raposa exige a certeza de um compromisso com hora marcada, impondo regras à troca afetiva. As regras dela, claro, já que ela quer todo o afeto a favor de seu bem-estar. Chega a ponto de dizer que será feliz porque você virá. Como se a felicidade fosse algo condicionado ao outro, à espera do outro, ao encontro com o outro. Veja que coisa infantil. São as crianças que precisam de horários certinhos e de associar suas emoções às pessoas com quem se relacionam. Sentindo prazer ou desprazer diante da ausência ou presença da mãe ou do pai ou de quem quer que seja. Na criança, ainda não há um universo interior, entendeu? Quando nós crescemos, temos de conseguir ver o mundo através das próprias perspectivas. Enxergar a beleza de um trigal sem nos lembrar de ninguém.
A Raposa, como uma criança assustada, quer que aqueles que a amam estejam com ela na hora em que ela deseja. Achando que eles são “responsáveis” pela felicidade dela. Ou seja, o outro lhe deve algo por tê-la cativado.
Desde esse dia, não falo mais com ela. E aconselho você a fazer o mesmo. Ela não é flor que se cheire.
Saudades distantes,
Fernanda Young
Wallpaper - Coraline
Coraline
Para ler ouvindo: "A Song For The Lovers" (primeira faixa do cd que falei ontem, do Richard Ashcroft).
Por Débora Silvestre - crítica e colunista
Assim é… se não lhe parece
Essa é uma boa frase pra definir Coraline e o Mundo Secreto, novo longa de Henry Selick(O Estranho Mundo de Jack, 1993), que estréia na próxima sexta, dia 13 de Fevereiro. Coraline é uma esperta e entediada menina de 11 anos que acaba de se mudar com seus pais para uma casa nova, no Oregon, chamada de “palácio rosa”. Eles trabalham demais e não lhe dão a atenção que ela deseja, e devido ao tédio, ela passa a acreditar que a vida poderia ser muito melhor e muito mais divertida. Seus desejos parecem se realizar quando ela encontra uma portinha secreta para um mundo mágico, com uma nova casa, novos vizinhos e novos pais que fazem tudo o que Coraline quer. Porém, no auge da felicidade, a menina descobre que nem tudo que reluz é ouro e que o suposto palácio rosa do outro mundo poderia ser, na verdade, um castelo dos horrores.
O filme é baseado no best-seller com o mesmo nome, de Neil Gaiman, que afirmou que sua motivação ao escrever o livro era “expressar que, certas vezes, as pessoas que nos amam podem não nos dar toda a atenção que precisamos, e certas vezes aqueles que nos dão toda a atenção necessária podem não nos amar de maneira saudável”. E é isso que se passa com Coraline. Depois de viver aquele sonho que se transforma em pesadelo, ela vê que as pessoas que não eram aparentemente tão encantadoras, eram as que a estavam protegendo, e que de fato, a amavam. Como as vizinhas que lêem sua sorte e avisam que ela corre grande perigo. Entretanto, como todos são extravagantes e aquele novo mundo encanta a protagonista de sobre maneira, ela desconsidera todas as recomendações, desenrolando, assim, o filme.
Coraline e o Mundo Secreto iniciou sua pré-produção em 2005, e a direção de arte e o storyboarding vieram em primeiro lugar, para que cada personagem e cena fossem logo visualizados. O estilo de animação que sempre esteve na mente de Selick é o stop-motion, ou seja: criam-se bonecos, coisas tangíveis que são fotografados, de maneira que, quando o filme é projetado, tenha-se (no mínimo) 24 fotogramas por segundo deles; mesma de O Estranho Mundo de Jack e James e o Pêssego Gigante. Não é à toa que o novo filme do diretor americano faz diversas alusões ao primeiro, como a cena em que a menina passeia pelo jardim do outro mundo e passa pela ponte daquele, a qual não tem como não lembrar do personagem Jack Skellington. A “nova-mãe” despeja a gema de ovo numa vasilha que forma a imagem do mesmo personagem.
A animação é uma obra-prima que fica muito mais deliciosa se assistida em 3D. Com certeza, um forte candidato ao Oscar de melhor animação em 2010. Na tela do cinema, os dois mundos de Coraline ganham vida de forma espetacular e nos fazem pensar sobre o nosso próprio mundo e um suposto mais feliz.
Fonte: pipocacombo.com
Direção: Henry Selick.
Elenco: Dakota Fanning, Teri Hatcher, Keith David.